quarta-feira, 9 de maio de 2012




Viver é complexo, difícil, nem sei dizer quando tudo isso começa a fazer parte do viver. Porque antes, quando crianças, apesar de toda ânsia de poder começar a fazer as coisas, dirigir carros, dirigir a própria vida, a vida era o substrato em si, era só a marcha, uma coisa em si sobre a qual não se refletia muito. E éramos mais felizes, parece. Problemas começam a acontecer, ou já aconteciam e a gente nao percebia, eu não sei, pode ser loucura, mas às vezes me dá a utópica e forte sensação que não, que parece que até menos gente morria antes, menos doença acometia, e se acometia, era com gente velha, pessoas em relação às quais se entendia cabível que certas coisas acontecessem.
Mas aí, vem aquele papo todo de mulher de meia idade, autoconhecimento, autocontrole, coisas sobre ter que tomar um rumo, caminhos de se fazer na terapia, no misticismo – acho que percorro os dois (rs). Nada é mais óbvio, e tem que se construir algo, os entendimentos, essas coisas. E aquelas frases de adultos passam a ser adotadas por você. Por quê? Porque você também virou adulta, já viveu, sofreu, andou pelas estradas, amou, chorou, achou que ia morrer, achou que ia deixar de existir, desejou, e também não tem um ombro ou cabide, uns se penduram por aí, sem encarar o que se mostra sem tempo, se mostra de frente, mas umas pessoas ignoram as evidências como uma verruga no rosto. E aí, nada é realmente decidido, nada existe por si só, ou em você mesmo, porque tem sempre uma pessoa, alguém, na verdade, estruturas que se pensa ter, e se você as seguir, vai existir conforto.
Anyway, nem é disso que queria falar. Mas das coisas outras, do que se pode viver e encontrar, das sensações e coisas e acontecimentos e gostos e gestos e cheiros de irmãos na cama e risadas e novos amigos e os velhos e mão da minha mãe e vó no telefone e fotos e lembranças e abraços e filmes e shows e carnavais e viagens e lugares e pessoas que se reencontram. Tudo que volta pra enxergar a vida pelo caminhar, olhar pra trás, ver o quanto andou e olhar pra frente, imaginando como é bom chegar até ali em frente, e quando se chega lá, ali mais à frente se torna ainda mais interessante de se descobrir. Pode ser piegas, mas parece que é isso, voltar a ser criança no olhar que se tem sobre a vida.

3 comentários:

  1. Viver é complexo, reflexo baby, de tudo que nos constitui. Se eu fosse começar hoje faria muito diferente. Primeiro , pouparia os filhos. Eles não merecem os terríveis erros... Então somos responsáveis por esses futuros. Somos responsáveis se vai dar certo ou não. Somos responsáveis por essa colheita. Segundo, eu não conheceria os pais, o abandono é imperdoável e ficar louco no final da vida é somente uma consequência... plantar pimenta e querer colher maça, ja é o começo da insânidade ,insânidade... já vi isso. Se eu pudesse começar tudo de novo...Conheço gente que não pede desculpa , nem perdão, eu sou humilde e gente para reconhecer que sou humana o bastante...Viver na SELVA, dentro do grande RIO e nessa TERRA amazônica me faz reconhecer que vivo exclusivamente tentando reconstruir vocês e voltar pras minhas entranhas de mãe. Só isso vale a pena.

    ResponderExcluir
  2. Adulto e crianças em fonte, como aquarela em tela, tudo se mistura.

    ResponderExcluir